O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, fez um apelo ao chefe da Organização das Nações Unidas (ONU) neste domingo para que as forças de paz posicionadas no sul do Líbano fossem retiradas do “caminho do perigo”, dizendo que o Hezbollah as estava usando como “escudos humanos”.
Seu apelo ao chefe da ONU, António Guterres, foi feito um dia após a Força Interina das Nações Unidas no Líbano (Unifil) repetir sua recusa em se retirar da área de fronteira depois que cinco de seus membros foram feridos na guerra entre Israel e o Hezbollah.
— Sr. Secretário Geral, tire as forças da Unifil do caminho do perigo. Isso deve ser feito agora mesmo, imediatamente — disse Netanyahu em uma declaração em vídeo divulgada por seu Gabinete.
Falando antes de uma reunião de Gabinete, Netanyahu afirmou que as forças israelenses pediram várias vezes à Unifil para sair, dizendo que a presença das tropas de paz tinha “o efeito de fornecer escudos humanos aos terroristas do Hezbollah”.
— Sua recusa em evacuar os soldados da Unifil os torna reféns do Hezbollah. Isso coloca em risco tanto eles quanto a vida de nossos soldados — declarou o premier. — Lamentamos os danos causados aos soldados da Unifil e estamos fazendo todo o possível para evitar tais danos. Mas a maneira mais simples e óbvia de garantir isso é simplesmente retirá-los da zona de perigo.
A UNIFIL se recusou a deixar suas posições no sul do Líbano.
— Houve uma decisão unânime de permanecer, porque é importante que a bandeira da ONU ainda esteja hasteada nessa região e que seja possível se reportar ao Conselho de Segurança — disse o porta-voz da Unifil, Andrea Tenenti, à AFP em uma entrevista no sábado.
Segundo Tenenti, Israel pediu à Unifil que se retirasse das posições “até cinco quilômetros (três milhas) da Linha Azul” que separa os dois países, mas as forças de paz se recusaram. Isso incluiria suas 29 posições no sul do Líbano.
‘Novo capítulo’
A Unifil, uma missão de cerca de 9.500 soldados de várias nacionalidades, foi criada após a invasão do Líbano por Israel em 1978. Atualmente, ela tem a tarefa de monitorar um cessar-fogo que encerrou uma guerra de 33 dias em 2006 entre Israel e o Hezbollah.
Quarenta nações que contribuem para a Unifil disseram no sábado que “condenam veementemente os recentes ataques” contra as forças de paz.
“Tais ações devem parar imediatamente e devem ser adequadamente investigadas”, disse a declaração conjunta, publicada no X pela missão polonesa da ONU e assinada por nações que incluem os principais contribuintes, Indonésia, Itália e Índia.
Neste domingo, a Unifil disse que havia exigido explicações do exército israelense sobre o que, segundo ela, eram “violações chocantes” contra sua força, incluindo a entrada forçada em uma de suas posições, depois que, no início da manhã, tanques israelenses “destruíram” uma posição da Unifil e “entrado à força” no local.
O primeiro-ministro libanês, Najib Mikati, também condenou o apelo israelense para que a UNIFIL abandonasse o sul do país.
— O aviso que Netanyahu enviou a Guterres exigindo a remoção da UNIFIL representa um novo capítulo na abordagem do inimigo de não cumprir as normas internacionais — declarou Mikati.
Anteriormente, Netanyahu disse que as críticas a Israel eram descabidas e deveriam ser dirigidas ao Hezbollah.
— Em vez de criticar Israel, eles deveriam direcionar suas críticas ao Hezbollah, que usa a Unifil como escudo humano, assim como o Hamas em Gaza usa a UNRWA como escudo humano — afirmou sobre a agência da ONU para refugiados palestinos. — Infelizmente, a UNRWA também coopera com o Hamas lá.
A UNRWA tem mais de 30 mil funcionários nos territórios palestinos e em outros lugares. A agência está em crise desde que Israel acusou uma dúzia de seus funcionários de estarem envolvidos no ataque do Hamas a Israel em 7 de outubro de 2023, que resultou na morte de 1.206 pessoas, a maioria civis, de acordo com uma contagem da AFP de números oficiais israelenses.
A ONU demitiu imediatamente os funcionários implicados, e uma investigação encontrou algumas “questões relacionadas à neutralidade”, mas ressaltou que Israel não havia fornecido provas de suas principais alegações.
O Globo
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