O desempenho dos partidos de esquerda nos principais colégios eleitorais do Brasil em 2024 foi o mais fraco em 23 anos, conforme análise do cientista político Murilo Medeiros, da Universidade de Brasília (UnB). A pesquisa mostra que PT, PSB e PDT juntos irão governar somente 9,7% das cidades com mais de 200 mil eleitores, grupo apelidado pelo estudioso de “PIB eleitoral”, por reunir 40% do eleitorado do país.
Este conjunto de municípios, formado por 103 cidades onde há possibilidade de segundo turno, tem papel estratégico para projetar lideranças e influenciar o quadro político nacional. Segundo Medeiros, há uma concentração partidária nesses grandes centros urbanos, que passaram de 19 partidos representados em 2020 para 13 em 2024, uma redução de 31,5%.
Os números revelam uma predominância das legendas de direita e centro-direita nas grandes cidades. No contexto da esquerda, o PT, partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, obteve o maior número de vitórias, conquistando seis cidades entre as mais populosas, incluindo Fortaleza (CE), única capital a ser governada pelo partido. Outras cidades importantes, como Mauá (SP), Juiz de Fora (MG) e Pelotas (RS), também estarão sob administração petista.
O PSB, partido do vice-presidente Geraldo Alckmin, e o PDT somaram apenas duas prefeituras cada entre as grandes cidades. A situação é crítica, se comparada ao quadro de 2000, quando o PT sozinho governava 22 municípios do mesmo porte. De acordo com o cientista político, o campo progressista está enfrentando dificuldades em manter lideranças expressivas, o que se traduz em uma queda de conexão com setores estratégicos da sociedade.
Entre os motivos da baixa conexão, Medeiros destaca a perda de sintonia com os evangélicos, moradores da periferia e o público jovem. Para ele, os partidos de esquerda “ancorados no discurso identitário e no ideário sindicalista dos anos 1980” deixaram de dialogar com a nova classe C e com o Brasil religioso, que almejam políticas mais empreendedoras e menos burocráticas.
Por outro lado, o PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, obteve seu melhor desempenho histórico no grupo das grandes cidades, ao passar de 2 para 16 prefeituras entre 2020 e 2024. Valdemar Costa Neto, presidente do partido, viu a legenda alcançar a liderança no número de prefeituras nas maiores cidades, consolidando o PL como força significativa no cenário político atual.
Outros partidos de centro-direita e direita também se destacaram. O PSD, liderado por Gilberto Kassab, comandará 15 municípios populosos, enquanto o União Brasil elegeu 14 prefeitos, desempenho superior ao que o partido obteve nas últimas seis eleições municipais.
Partidos conservadores como Republicanos e PP também registraram avanços importantes: o Republicanos dobrou sua presença nos grandes colégios eleitorais, enquanto o PP ampliou em 37,5% o número de prefeituras. Pela primeira vez em sua história, o partido Novo terá o controle de duas cidades do “PIB eleitoral”: Joinville (SC) e Taubaté (SP), beneficiado pelo uso do Fundo Eleitoral, decisão recente da legenda.
Esse desempenho conservador ressalta a guinada à direita nos grandes centros urbanos, enquanto a esquerda enfrenta desafios na renovação de suas pautas e na formação de novas lideranças.
Por Agora RN
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